E hoje, que é o Dia da Criança, apetece-me escrever sobre isto...
Desde miúda que sempre quis ter filhos. Lembro-me bem de ter uns 10 ou 12 anos e a minha prima, mais nova do que eu um ano, me dizer que não queria ter filhos, e de eu lhe encontrar uma distância quase intransigente às crianças. Era coisa que não me fazia muita confusão na altura, e desde logo não contestei. Acho que foi nesse momento que me apercebi, e compreendi, que há pessoas que não nasceram para ser mães, e que ao contrário de mim, não tinham o sentido da maternidade apurado.
Uns anos depois, uns 10 se calhar, vivi de perto a tragédia de ver partir uma criança com uma alegria de viver sem paralelo, com uma imagem quase de anjo: olhos azuis, cabelinho claro e linda de morrer. E foi aí que percebi, sem a sentir, que a dor de perder um filho deve ser a pior dor do mundo.
Esta semana soube que uma das pessoas que viveu essa dor, ainda que de forma diferente da minha, não quer ter filhos. Nunca. Não porque não tenha sentido durante toda a vida o apelo da maternidade, mas porque – e aqui suponho eu – não suporta a ideia de sentir aquela dor a que tão de perto assistiu.
Ouço muitas vezes dizer que temos filhos para, um dia mais tarde, não ficarmos sozinhos. Que se tem um filho porque se é egoísta, porque se não o fossemos, não o traríamos para este mundo cruel e tão mal preparado para receber e educar uma criança. Já recebi por e-mail, mais do que uma vez, um texto que relata a
maratona da vida que estabelecemos aos nossos filhos, antes ainda de eles nascerem. Curiosamente, foi-me sempre enviado por pessoas que não têm filhos.
Confesso que antes de ser mãe, pensei algumas vezes no ter, ou não, um filho, mas nunca o coloquei na Ordem do Dia da minha vida. Para mim, não fazia sentido não dar resposta ao meu apelo maternal. E agora que ela nasceu, e agora que ela me conhece e busca em mim o conforto que necessita quando se sente um pouco perdida, vejo que foi para isto que nasci. Nasci para ser mãe desta menina, não de um filho qualquer. E à medida que ela cresce, crescem em mim todos os receios: e se não conseguir ser uma boa mãe? E se lhe falto em algum momento importante da sua vida, ou se caírem as
pontes entre nós? Nunca o medo de morrer se tornou tão real. Nunca o medo de perder alguém se tornou tão intenso. E nunca um desafio fez tanto sentido para mim. É por esta, e por outras variadas razões, que creio que não se tem filhos por egoísmo. Tem-se filhos por coragem.
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Sim, eu ODEIO FAZER DIETA.